Papa Bento 16 anunciou nesta segunda-feira (11) a renúncia ao
pontificado, segundo o Vaticano. Ele deixará o posto às 20h (16h de
Brasília) em 28 de fevereiro.
Em comunicado,
feito em latim durante uma assembléia de cardeais na qual se discutia um
processo de canonização, Bento 16 disse que deixará o cargo devido à idade
avançada, por "não ter mais forças" para exercer a função.
Para o decano do
Colégio dos Cardeais, Angelo Sodano, a notícia foi "um raio no céu
azul". Suas palavras foram recebidas com profundo silêncio pelo
consistório.
"Após ter
examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de
que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o
ministério petrino", disse o papa em um surpreendente anúncio durante o
consistório para marcar as datas de canonização de três causas.
O pontífice, que
completará 86 anos em abril, afirmou que "no mundo de hoje (...), é
necessário o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos
meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade
para exercer bem o ministério que me foi encomendado". "Por esta
razão, e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro
que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro",
acrescentou o papa.
As palavras do papa
Queridíssimos
irmãos, Convoquei-os a este Consistório, não só para as três causas de
canonização, mas também para comunicar-vos uma decisão de grande importância
para a vida da Igreja. Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha
consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças
para exercer adequadamente o ministério petrino. Sou muito consciente que este
ministério, por sua natureza espiritual, deve ser realizado não unicamente com
obras e palavras, mas também e em não menor grau sofrendo e rezando. No
entanto, no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por
questões de grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro
e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do
espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de
reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi
encomendado. Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato, com plena
liberdade, declaro que renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São
Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de
modo que, desde 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de
São Pedro ficará vaga e deverá ser convocado, por meio de quem tem
competências, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice. Queridíssimos
irmãos, lhes dou as graças de coração por todo o amor e o trabalho com que
levastes junto a mim o peso de meu ministério, e peço perdão por todos os meus
defeitos. Agora, confiamos à Igreja o cuidado de seu Sumo Pastor, Nosso Senhor
Jesus Cristo, e suplicamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista com sua
materna bondade os Cardeais a escolherem o novo Sumo Pontífice. Quanto ao que
diz respeito a mim, também no futuro, gostaria de servir de todo coração à
Santa Igreja de Deus com uma vida dedicada à oração.
Esta é apenas a segunda vez que um papa da Igreja
Católica renuncia ao pontificado. Antes, no ano de 1294, Celestino 5º abdicou
antes de ser consagrado. Ele, que havia vivido como um ermitão antes de ser
designado papa. não se sentia preparado para assumir o comando da Igreja.
O cargo agora ficará vago até a eleição do
próximo papa, "um período de 'sede vacante'", afirmou o padre
Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.
"A noticia nos pegou de surpresa",
disse Lombardi.
Aos 78 anos, ele foi um dos cardeais mais
idosos a ser eleito papa. Após o anúncio, no entanto, o porta-voz disse que
nenhuma doença levou Bento 16 a anunciar sua renúncia. Lombardi afirmou que o
próprio pontífice, na carta na qual anunciou sua decisão, explicou que nos
últimos meses sentiu diminuírem suas forças físicas.
Em um livro de entrevistas publicado em 2010,
o Papa já havia falado da possibilidade de renunciar caso não tivesse condições
de continuar suas atividades.
"A idade oprime", disse o irmão
mais velho do Papa, o também religioso Georg Ratzinger, 89. Segundo ele, que já
sabia dos planos de Joseph, o médico do sumo pontífice aconselhou ao papa que
não faça mais viagens transatlânticas. O irmão afirmou também que o Bento 16
tem cada vez mais dificuldades para andar, o que complica sua vida pública, e
ressaltou que seu "irmão quer mas tranqüilidade a esta idade".
O Papa fica cansado cada vez mais rápido,
explicou Georg Ratzinger, que qualificou de "processo natural" a
anunciada renúncia. "Meu irmão espera uma velhice mais tranqüila".
Antes de anunciar a renúncia ao cargo, Bento
16 tinha visita programada para o Brasil em junho, quando participaria da
Jornada Mundial da Juventude, no Rio. O evento está marcado para acontecer
entre os dias 23 e 28.
Biografia
O cardeal alemão Joseph Ratzinger foi eleito
papa em 19 de abril de 2005, em substituição a João Paulo 2º, que havia morrido
em 2 de abril de 2005.
Bento 16 é o 265º papa e o primeiro a ser
eleito no século 21. Ele assumiu o posto em meio a um dos maiores escândalos
enfrentados pela Igreja Católica em décadas - o escândalo de abuso sexual de
crianças por clérigos.
Líder da Congregação para a Doutrina da Fé,
Bento 16 contou com o apoio das alas mais conservadoras da igreja à época de
sua escolha como sumo pontífice.
Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927 em
Marktl, Alemanha, e entrou para o seminário aos 12 anos. Na adolescência,
estudou grego e latim, e mais tarde se doutorou em teologia pela Universidade
de Munique.
É conhecido como grande estudioso e possui
sólida carreira acadêmica. Na Igreja, ocupou o posto de prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, responsável por difundir e defender a
doutrina católica.
Com a morte de João Paulo 2º, Ratzinger foi
eleito pelos cardeais em abril 2005 e adotou o nome de Bento 16.
Durante a Segunda Guerra, chegou a ser
convocado para combater nos esquadrões antiaéreos alemães. Dispensado, acabou
sendo recrutado primeiro pela legião austríaca e depois pela infantaria alemã,
da qual desertou em menos de dois meses.
De volta ao seminário, foi ordenado padre em
junho de 1951. À função, somou o trabalho como professor de teologia, primeiro
na Universidade de Bonn e depois na de Regensburg, onde seria reitor.
Em março de 1977, tornou-se arcebispo de
Munique e Freising e, menos de três meses depois, foi criado cardeal pelo papa
Paulo 6º. Já sob João Paulo 2º, em 1981, Ratzinger tornou-se o líder da
Congregação para a Doutrina da Fé.
Neste cargo, Ratzinger reprimiu com força os
teólogos que saíram de sua doutrina rígida e alienou outras denominações
cristãs dizendo que não são igrejas verdadeiras.
Chamado de Guardião do Dogma, ele combateu o
sacerdócio feminino e condenou a homossexualidade, além de ser contra a
comunhão aos divorciados que voltarem a se casar e a impedir o crescimento do
laicismo dentro da Igreja, mas não se considera um "durão". (Com
agências internacionais)
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