Zuenir Ventura na mesa "Em Nome do Pai" na
Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2014
O escritor e jornalista Zuenir Ventura foi
eleito nesta quinta-feira (30) como o sucessor de Ariano Suassuna na Academia
Brasileira de Letras, em votação realizada na sede da entidade, no Rio de
Janeiro.
Colunista do jornal "O Globo",
Zuenir Ventura, 83, é um dos mais renomados jornalistas do país --vencedor do
Prêmios Esso de Jornalismo e do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos
Humanos. Ele se torna o novo ocupante da cadeira 32, vaga após a morte de
Suassuna no dia 23 de julho deste ano, no Recife.
"Recebemos Zuenir com grande
alegria", disse o presidente da ABL, Geraldo de Holanda Cavalcante.
"Ele é um cronista, um escritor querido por sua dedicação e por sua
lucidez. A Academia está muito feliz em recebê-lo", afirmou.
Zuenir recebeu 35 dos 37 votos possíveis,
enquanto Thiago de Mello e Olga Savary tiveram um voto cada. A eleição foi
realizada com a presença de 18 acadêmicos e os outros 19 votaram por carta.
Além de Suassuna, os ocupantes anteriores da
cadeira 32 foram Carlos de Laet, Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo
e Genolino Amado.
Carreira
Nascido em 1931 em Além Paraíba, interior de
Minas Gerais, Zuenir ingressou no jornal carioca "Tribuna da
Imprensa" nos anos 1950. Em 1959, recebeu uma bolsa do governo
francês para estudar em Paris, e atuou como correspondente da
"Tribuna", fazendo coberturas de eventos históricos, como a passagem
de João Goulart pela capital francesa antes de se tornar presidente e o
encontro de cúpula em Viena entre Kennedy e Kruschev.
Zuenir depois retornou ao Brasil e trabalhou
em veículos como "O Cruzeiro" e "Visão". Em 1968 foi preso,
acusado de atividades subversivas pela ditadura militar. Ele depois escreveria
um dos maiores destaques de sua bibliografia: "1968: O Ano que Não
Terminou" (1989), que se tornaria inspiração para a minissérie "Anos
Rebeldes", da Rede Globo. Nos anos 1970 e 1980, Zuenir ocupou ainda cargos
de chefia em publicações como as revistas "Veja" e "IstoÉ".
Em 1989, o jornalista foi enviado para o Acre
para cobrir para o "Jornal do Brasil" um dos casos de maior
repercussão daquele ano: o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes. Com
as reportagens, Zuenir ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo e o prêmio Vladimir
Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Ele ainda voltaria ao tema em 1990, quando
voltou à região para acompanhar o julgamento dos responsáveis pela morte de
Chico Mendes. O caso foi retomado no livro "Chico Mendes - Crime e
Castigo", publicado em 2003, obra que reúne as reportagens originais sobre
o seringueiro e também narra uma viagem de retorno ao Acre 15 anos depois, na
qual Zuenir revisitou lugares e personagens envolvidos no crime.
Em 1995, Zuenir ficou com o segundo lugar no
Prêmio Jabuti de Reportagem pelo livro "Cidade Partida", em que conta
a experiência de passar nove meses frequentando a favela de Vigário Geral e
retrata as causas da violência no Rio.
No cinema, ele codirigiu o documentário
"Um Dia Qualquer" e foi roteirista de outro, "Paulinho da Viola:
Meu Tempo É Hoje", de Izabel Jaguaribe. Suas livros mais recentes são
"Minhas Histórias dos Outros", "1968 - O que Fizemos de
Nós" e "Conversa sobre o Tempo", com Luis Fernando Verissimo.
Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um
troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que "mais
contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país nos últimos 30
anos". Em 2010, foi eleito "O jornalista do ano" pela Associação
dos Correspondentes Estrangeiros.
Aos 81 anos, em 2012, o jornalista se lançou
à literatura e publicou seu primeiro livro de ficção,
"A Sagrada Família", em que se inspira em suas memórias
para narrar as descobertas, relações afetivas, sexuais, a culpa e o pecado de
um garoto na década de 1940.