Uma nova frente de apurações do mensalão em São Paulo investigará se o
grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, usou o empresário Marcos
Valério Fernandes de Souza para intermediar repasse de suborno ou de
doações ilegais ao PT.
A investigação é resultado do desmembramento de um inquérito aberto no
STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se o mensalão envolveu
pessoas e empresas além dos 40 réus denunciados pela Procuradoria Geral
da República em 2006, agora sob julgamento.
O relator do caso no STF, ministro Joaquim Barbosa, acolheu em agosto o
pedido da Procuradoria para a abertura do novo inquérito na Justiça
Federal de São Paulo.
Segundo a petição do Ministério Público Federal, a apuração anterior,
que foi executada pela Polícia Federal, "encontrou elementos de prova
que confirmam que as empresas Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia
Celular, que pertenciam ao grupo Opportunity, dirigido à época dos
fatos por Daniel Dantas, aderiram ao esquema criminoso montado pelo
empresário [Marcos Valério]".
PAGAMENTOS
O inquérito da PF, concluído pelo delegado Luís Flávio Zampronha em
2011, rastreou os pagamentos feitos por três empresas de Valério às
companhias telefônicas.
O levantamento apontou pagamentos no total de R$ 167 milhões entre 1999 e 2005, quando o escândalo do mensalão veio à tona.
A PF afirmou que dois contratos de prestação de publicidade assinados em
2005 entre a Brasil Telecom e as empresas de Valério, no total de R$ 50
milhões, eram de fachada, e foram feitos para abastecer o valerioduto.
Zampronha citou uma reunião de 2003 entre um sócio de Dantas, Carlos
Rodemburg, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e Valério, estes dois
últimos réus no julgamento do mensalão.
No encontro, o delegado diz que o petista teria pedido ajuda ao Opportunity para saldar um dívida de US$ 50 milhões do partido.
Apesar de os envolvidos negarem o atendimento da suposta solicitação de
Delúbio, Zampronha concluiu que "a proposta de financiamento não somente
foi aceita, como devidamente formalizada e concretizada" com a
assinatura dos contratos que somaram R$ 50 milhões.
O objetivo dos contratos foi "conferir a fachada de legalidade
necessária para a distribuição de recursos, na forma de doações
clandestinas ou mesmo suborno, negociados ao longo de dois anos entre
representantes do grupo Opportunity e do Partido dos Trabalhadores,
sempre com a indelével intermediação do empresário Marcos Valério",
escreve Zampronha.
Para ele, os contratos só não foram executados porque em junho de 2005 o mensalão chegou à imprensa.
ESQUEMA
Em entrevista à Folha em agosto, Zampronha disse que "o mensalão é
maior do que o caso em julgamento no Supremo" e que o esquema era mais
amplo nas suas duas pontas, tanto de arrecadação como de distribuição.
O novo inquérito em São Paulo foi distribuído a uma vara federal criminal em 24 de setembro.
O caso envolve Daniel Dantas novamente em uma investigação criminal.
A Operação Satiagraha da Polícia Federal, na qual ele foi acusado de
corrupção ativa, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, foi anulada
pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça ) em 2001.
O tribunal invalidou a operação porque considerou ilegal a participação da Agência Brasileira de Inteligência.
OUTRO LADO
O Opportunity, seu dono Daniel Dantas e a defesa do empresário Marcos
Valério negaram que as empresas de telefonia controladas pelo grupo
tenham sido usadas para fazer repasses ilegais ao PT. O partido não se
manifestou até a conclusão da edição.
Em nota, o Opportunity afirmou que "a Brasil Telecom, a Telemig e
Amazônica contrataram agências de publicidade como fazem todas as
empresas que precisam posicionar serviços e produtos em mercados
competitivos."
"As três empresas eram líderes em seus mercados, destacadas por sua
solidez financeira, qualidade de seus serviços e foram muito premiadas.
Por isso, alvos de disputa societária."
Ainda segundo a nota, "o Opportunity não tomou conhecimento de irregularidade alguma nos contratos feitos por essas companhias."
"Não é crível considerar que o Opportunity e a Brasil Telecom,
'propalados adversários' do regime petista, usufruíssem de sua confiança
para ser o provedor de recursos clandestinos", disse o grupo.
O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, afirmou que a agência do
empresário atendia a Telemig Celular desde a criação da tele e que
ignora quaisquer operações para fazer repasses ilegais.
Editoria de arte/Folhapress |
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