Em plena campanha para fazer de José Serra (PSDB) seu
sucessor em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) não esconde sua
inclinação em apoiar o governo da presidente Dilma Rousseff após as eleições
municipais.
"Não tenho constrangimento em afirmar
que se as eleições fossem hoje, eu me sentiria muito confortável em apoiar a
reeleição da presidenta Dilma", diz.
À Folha, Kassab diz que bancou uma
intervenção e rompeu com o PSDB em Belo Horizonte para evitar o apoio de seu
partido a um candidato do senador Aécio Neves (PSDB), provável adversário de
Dilma em 2014.
Questionado sobre seu futuro político e uma
possível candidatura ao governo do Estado em 2014, afirma: "não descarto
nada". Veja os principais trechos da entrevista.
Seu partido, o PSD, participará de eleições
este ano pela primeira vez e apoia candidatos que vão do PC do B ao PSDB. Como
vê isso?
Não há maleabilidade. O partido nasceu agora
e nessa transição tem que respeitar os compromissos de seus membros. Os
companheiros da Bahia apoiaram a presidenta Dilma. Em São Paulo, apoiamos o
Serra, então não é confortável nos transformarmos em governistas. Mas todos
sabem da minha simpatia com a presidenta.
E como vê a posição do PSD em 2014, na
próxima eleição presidencial?
Vamos aguardar o resultado das eleições
municipais e a performance do governo da presidenta Dilma. Mas não tenho nenhum
constrangimento em afirmar que se as eleições fossem hoje, eu me sentiria muito
confortável em apoiar a presidenta Dilma.
O PSD teve seu primeiro embate político por
conta de sua intervenção em Belo Horizonte. O sr. agiu em Minas para afastar o
PSD do senador Aécio Neves (PSDB)?
A intervenção não foi de cima para baixo. Não
quero ser injusto de dizer que o PSDB provocou essa situação, mas poderia ter
evitado. E, na medida em que não evitou, partindo do princípio que lá temos o
provável adversário da presidenta Dilma, o senador Aécio Neves, houve a
nacionalização da campanha. O partido entendeu que essas condições poderiam
desequilibrar nossa posição de independência.
Em Recife o sr. teve postura diferente. O
governador Eduardo Campos (PSB) rompeu com o PT e o PSD o acompanhou.
Lá a circunstância é local.
Mas Campos também é apontado como
presidenciável...
Ele é apontado, mas não se considera
presidenciável. O Campos tem afirmado disposição em apoiar a presidenta Dilma.
Já o senador Aécio Neves tem manifestado disposição em disputar a eleição.
Em São Paulo, pessoas próximas ao governador
Geraldo Alckmin (PSDB) o veem como provável adversário em 2014.
As eleições de 2014 não podem ser discutidas
antes de 2012. Isso não existe.
Mas como o sr. se vê? Candidato ao Senado, ao
governo?
Não faço política com ansiedade. Vou
continuar na vida pública e não tenho preocupação sobre a posição que vou
atuar. Tenho convicção que não se deve pensar em 2014 sem esperar 2012.
Mas o sr. não descartou disputar o governo...
Não descarto nada. Hoje, em relação ao
governo Alckmin, somos aliados.
Alguns alckmistas também reclamam de sua
postura de na campanha de Serra.
Não é questão de assumir posição de destaque,
mas de contribuir com pessoas que se sentem realizadas com esta gestão e
escolheram o candidato identificado com ela.
Mas o sr. atua para fazer acordos até com
quem está fora da coligação...
A minha rotina de prefeito exige diálogo.
Ainda tenho seis meses de gestão. É minha rotina, não quer dizer que sejam
conversas de adesão.
Foi esse o intuito da conversa com o partido
do candidato Celso Russomanno (PRB)?
O erro é isolar esse encontro. A minha rotina
é ter encontros com partidos aliados. O PRB me apoia [na Câmara]. O PC do B tem
um secretário conosco. Agora, se o Serra vai em casa e eu estou lá com a
bancada do PC do B vou dizer 'Serra, não venha'?
E o apoio a candidatos de coligações
adversárias, como vereadores do PTB?
Como cidadão, procuro ajudar as pessoas da
coligação do Serra. Agora, como prefeito, tenho continuado as minha relações
com todos os vereadores, em especial com os da minha base.
Antes de o Serra decidir ser candidato, o sr.
propôs apoiar o candidato do ex-presidente Lula, Fernando Haddad (PT).
Procurei o primeiro o PSDB. Fiz tudo às
claras. Diante da negativa dos tucanos, entendi que o melhor candidato era
Haddad. E volto a dizer: tirando o Serra, Haddad é o melhor candidato.
Com a candidatura de José Serra, como ficou
sua relação com o ex-presidente Lula?
A conversa começou pela questão do Serra: 'se
o Serra não for candidato...'. Fiz de peito aberto. Portanto, a relação com o
Lula é boa. Hoje tenho posição de independência, o que não nos impede de
caminhar juntos em 2014.
Questionado sobre seu baixo índice de
aprovação, José Serra afirmou que a criação do PSD pode ter dado a sensação de
que o sr. abandonou a cidade. Concorda com a avaliação?
Se passou, foi uma sensação errada. Não teve
um dia em que eu me afastei das funções de prefeito. Mas como a questão
política ocupou o noticiário, alguns podem ter ficado com essa impressão, que
será corrigida com o passar do tempo e a campanha.
Como assim?
A campanha vai poder mostrar o que fizemos. O
próximo prefeito vai encontrar a cidade liberada dos três turnos e poderá
trabalhar pelo ensino integral. Reformamos e ampliamos a rede de saúde,
dobramos os equipamentos. O tempo acaba privilegiando os grandes projetos.
Que impacto acha que o julgamento do mensalão
terá na eleição de São Paulo?
Numa eleição, tudo tem impacto. Seja o
mensalão, seja os erros dos candidatos.
A prefeitura convive com o denúncias de
corrupção na Aprov. O sr. errou por ter nomeado Hussain Aref Saab?
Aref é funcionário público há 30 anos. Chegou
uma denúncia anônima no meu gabinete e eu pedi apuração ao corregedor e que se
desse ciência ao Ministério Público. As investigações decorreram dessa postura.
Mas ele ficou sete anos no cargo...
Quando soube fiz o meu papel. É o que
importa.
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